Pais aproveitam o período de isolamento social para influenciar e renovar seu relacionamento com os filhos adolescentes
Obra da Graça Editorial destaca o perfil influenciador da figura paterna. Psicólogas debatem a mudança nas relações familiares durante a pandemia. Leonardo Felix Estamos conectados 24h à internet e interagimos continuamente nas redes sociais, encurtando a distância física entre as pessoas. Muitas vezes, estamos separados por milhares de quilômetros, porém a comunicação se dá de forma fluida. A um cômodo de distância, pais e filhos adolescentes não se falam, ou mantém uma relação superficial e distante. A Graça Editorial aborda essa questão da sociedade contemporânea no livro “Pai inteligente influencia o filho adolescente”, de Jaime Kemp. Segundo o autor e pastor, o pai é responsável por construir um ambiente apropriado ao crescimento e amadurecimento dos filhos. “Deus revelou, nas Escrituras, Seu plano para que a família desempenhe seu papel harmonicamente. O homem deve ser o líder e agir sob a autoridade do Cabeça, que é Cristo. Ao lado da esposa, eles criam os filhos em um lar focado em Jesus e nos princípios bíblicos”, explica. Para aprofundar o debate sobre o assunto, entrevistamos as psicólogas Ana Lúcia Rodrigues e Valéria Miranda. Graça Editorial: Como pais e filhos adolescentes têm se relacionado em tempos de pandemia? O isolamento social agravou a distância entre eles? Ana Lúcia Rodrigues: A relação dos adolescentes com os pais tem sido diferente. Os pais trabalhavam muito, sem tempo para família. Não conviviam com os filhos, o lar era apenas um local de descanso à noite. Agora tiveram que criar um hábito saudável para poder permanecer juntos, com menos atritos. Foi gerada uma rotina e a convivência em família está dando certo, com qualidade de vida. Por outro lado, infelizmente, também há casos de adolescentes que estão usando drogas para suportar um pai agressivo, que tem consumido muita bebida alcoólica, ocasionando o aumento de ocorrências de violência doméstica. Valéria Miranda: A busca por atendimento psicológico por parte dos pais para seus filhos aumentou. O isolamento não agravou a distância, ele aproximou pais e filhos. Se a família souber aproveitar a oportunidade, terá um maior convívio. Graça Editorial: Em uma época de comunicação on-line, qual é a principal barreira para que haja um relacionamento saudável entre pais e filhos adolescentes? Ana Lúcia Rodrigues: Os pais pedem aos filhos adolescentes que os ensinem como usar as redes sociais e o jovem não tem paciência para explicar. Isso já gera uma distância entre eles. Uma simples troca de mensagens de áudio ou texto com os pais não tem o mesmo efeito de uma conversa real, não é a mesma troca. Falta mais acolhimento e abraço. Valéria Miranda: A falta de compreensão e empatia. Muitos pais, devido ao trabalho, acabam perdendo a conexão com os filhos. Ainda é possível estabelecer uma comunicação saudável com os filhos. Para tal, devem valorizar os momentos em comum. Durante o lazer e a alimentação, o celular deve ser deixado de lado para priorizar as atividades em família. Os pais não dão a devida atenção aos filhos e não os conhecem verdadeiramente, pois estão ocupados com as questões profissionais e cotidianas. Isso prejudica a comunicação não verbal e, assim, o pai não percebe que seus filhos estão passando por angústias, tristezas e conflitos. De que forma os pais podem estabelecer uma relação de confiança e cumplicidade com seus filhos adolescentes? Ana Lúcia Rodrigues: O ideal é “não cortar as asas”, mas ensinar aos filhos como voar. Os pais tiveram os mesmos conflitos e dúvidas, portanto, para que haja confiança e cumplicidade, é preciso revelar-se, abrir o jogo. Uma criação autoritária demais só vai incentivar o adolescente a mentir, aumentando a distância para com seus pais. Valéria Miranda: Com empatia, respeito e compreensão. O pais devem se lembrar de que já passaram também por essa fase. Devem tentar pensar com a mente do adolescente, com acolhimento, sem julgamentos ou constrangimento. Diversos pais se colocam como seres muito superiores aos filhos, não dando abertura alguma para que seus filhos sejam seus amigos e os procurem para receber conselhos. O objetivo não é punir e atacar o filho adolescente, que, muitas vezes, é chamado de "rebelde" ou "aborrescente", mas auxiliar o ser humano que está em evolução e que precisa de cuidados. O que os pais devem fazer para entender melhor o universo do filho adolescente, dentro do contexto da sociedade atual e seus valores? Ana Lúcia Rodrigues: O pai deve procurar entender melhor o universo do filho adolescente dentro do contexto social. Há uma dinâmica muito diferente na comunicação. Hoje, esse adolescente quer saber o que todo mundo está falando. Além disso, o jovem está buscando a construção de sua própria identidade, o que o faz não ser um “clone” do pai. Portanto, havendo respeito a essa escolha, o pai pode se tornar um “líder”. O diálogo será melhor e o filho estará mais perto deste pai. É um “jogo” continuar educando em uma fase de conflitos. Valéria Miranda: Lembrar que o adolescente ainda não tem a sua consciência amadurecida, que o nível de compreensão dele ainda é diferente do adulto, e que essa fase passará, assim como passou para o próprio pai. Como o pai pode passar a ser uma influência positiva para seu filho adolescente? Ana Lúcia Rodrigues: Por exemplo, atualmente minha filha tem 30 anos. Achava que estava a educando bem, mas fui autoritária com ela. Era uma menina inteligente e, na época, muito insegura, porque a minha palavra tinha que ser sempre a última. É dar liberdade para que os filhos vivam. Eles devem arriscar e tomar suas próprias decisões. Isso vai tornar o convívio entre pais e filhos mais positivo. O pai deve ser sempre o porto seguro do filho, para que sempre possa confiar nos momentos de dificuldades. Valéria Miranda: Sempre com bons exemplos, pois as atitudes valem muito! Uma boa conversa, sinceridade, empatia são ótimas atitudes que vão fazer do adolescente um bom adulto. O carinho também é importante. Não é por que o filho está crescendo que você não deve mais dar um abraço, um beijo. Diga que o ama e que acredita nele e em seu potencial.